sexta-feira, 16 de julho de 2010

Os corredores


Cruzei as pernas e por um momento fechei os olhos. Respirei. Busquei coragem para viajar num lugar insondável. Minha mente! Minha ora sábia mente, minha ora débil mente. Encontrei força propulsora para adentrar os corredores desconhecidos de minha psique. Sempre temi essa excursão, sempre temi encontrar colunas que sustentam minhas lacunas de ilusão, o alento do meu falsário “self”, sempre temi desmascarar meu simulacro, sempre temi conhecer os demônios festeiros de minha psique.

Que merda de viagem! Que merda de falsa sensatez! Eu sabia que eles me mostrariam o que veridicamente me tornei. Notei que nada sou! Apenas torno-me! Apenas tenho um documento! Nada sou! Malditos corredores negros que por anos ocultaram meu “self”. Malditos demônios que ocultaram minha essência e deram-me uma máscara e uma lágrima para eu brincar no circadiano da vida. Vida complexa, cheia de etiquetas, modos e formalismos. Quem eu sou? Sou monstro? Sou criado? Não sou virgem de pensamentos! Não sou virgem nas atitudes? Quem eu sou?

Viagem tenebrosa! Descobri que vim do pó e que ao pó voltarei. Descobri que nunca fui rei e que mesmo nas minhas certezas sempre errei aos olhos do mundo, dos anjos e dos demônios. Nunca fui rei, os fantasmas do meu velho porão mentiram para mim. Nunca encontrei nada do que eles me prometeram! Nunca notei meu corpo! Nunca me decifrei! Não vi a paz em mim! Onde haverá saída para eu respirar a paz? Onde haverá saída para eu respirar-me? Para eu respirar a vida, sem atropelá-la, senti-la, cantá-la e quem sabe dançá-la. Onde haverá vida? Onde haverá tranqüilidade, verdade e amor? Onde haverá o perdão? Será que há isso tudo aqui no meu interior mental?

Não quero negociar nada com os anjos reles, o “self” não se negocia. Quero encontrar a sensibilidade nos confins de minha psique. Encontrar a renovação mental, física e espiritual, exorcizar os velhos fantasmas, limpar o porão, tirar as teias e polir a porta de ferro que dá passagem para os corredores escuros que escondem o ouro e derribar a sentinela do medo. Iluminar tal lugar. Que iluminem os corredores e que haja esperança em meio às dores! Que eu possa encontrar meu norte, encontrar meu maior presente, o meu “self” e com a força de todos os ânimos, dizer:

-Eu!

Que viagem! Acho que voltei!

Por Dias, Anderson

3 comentários:

Rafaelle Benevides disse...

Anderson, obrigada pelos comentários lá no meu escafandro... Bom texto, bem real. Fazia tempo que não via vc postar. Abraços.

Elaine disse...

Lembra quando discutimos sobre simulacro na clínica??
Muito legal o texto, expressivo..
Bju**

Cristiano Guerra disse...

Hey, Anderson!

Achei o texto fantástico só de início de conversa. E, de fato, parece que você não se encontrou ou não se conhece. O que não é um exercício fácil. mas eu desejo força e sorte, porque quanto mais cavamos, mais procuramos, é algo sem fim. Estruturalmente seu testo é perfeito e vale comentar a cacofonia que você criou no início: "ora sábia+mente ora débil+mente". Pegadas de poeta ;D

Abraço